O papo é: Guerra

Bombardiados por informação as vezes nos esquecemos que vidas estão em jogo.

before you went to bed, you told me:
"it's very weird that i am not afraid of going to sleep"

this page is only for your eyes.

“Dois anos de preguiça antes de começar este blog. Vou começar agradecendo a Israel, que queimou em uma noite dois anos de esforços meus em evitar esta aventura. Bom trabalho, rapazes! Especialmente quanto ao aeroporto. E as pontes. Não tem mais como sair do país. Nada mais pra fazer, apenas este blog”.

São as primeiras palavras de Mazen Kerbaj, publicadas há um mês, no seu Kerblog. Nele, o quadrinhista, músico e pintor mostra seu dia-a-dia em Beirute – cidade que desde julho está sendo duramente bombardeada pelo exército de Israel – principalmente através de cartuns.

As bombas felizmente ainda não chegaram perto dele, mas o barulho característico dos aviões é constante. Ou pior: num desenho postado hoje, 15 de agosto, após Israel acatar decisão da ONU e cessar fogo, Kerbaj diz que “ontem foi a pior noite. Nenhuma bomba sequer sobre Beirute. As horas de espera por uma bomba que nunca vem são piores que os 33 dias de espera sob as que vinham.”

Produzindo novos desenhos alucinadamente – afinal, como ele falou no primeiro post, não há mais nada para fazer – e ainda compondo músicas, o cartunista ganhou projeção internacional. Já foi entrevistado por jornalistas de todo o mundo, o blog tem milhares de acessos por dia e os comentários sobre cada desenho vêm de dezenas de nacionalidades.

“Cada vez que saio do meu apartamento, levo comigo: meu passaporte e o de Evan [filho], um gravador de mini-discs e o microfone, 2 camisetas, 2 cuecas, 2 meias, um caderno e canetas, meu trombone, binóculos, um livro, tabaco, uma câmera pequena, um isqueiro, um cartão de memória, uma escova de dentes e 4 pilhas.” Cada item é desenhado na página digitalizada.

Relatos de civis em guerra existem desde que existem guerras. Blogueiros escrevendo de países sob ataque estão em destaque desde a guerra do Iraque. Mas Kerbaj é o primeiro a blogar com desenhos que expressam toda a raiva, dor e medo de ser uma figura "irrelevante", um civil, num conflito militar entre duas nações. Expressos no nanquim, estes sentimentos dão uma perspectiva única do que é a guerra, diferente das fotos e das notícias cruas que saem a todo minuto.

A perspectiva mais humana da guerra, quem diria, está sendo representada através dos quadrinhos.

Interessou-se?
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Ainda em tempo:
O post acima é cópia descarada do site Omelete e foi escrito por Érico Assis.